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O Mecanismo Das Redes Sociais E A Política: Algumas Questões Para Reflexão

O Mecanismo Das Redes Sociais E A Política: Algumas Questões Para Reflexão

É inegável que analisar a internet tem sido um grande desafio, isto ocorre em função de sua ambiguidade e complexidade, mas também em função de que ela própria tem se transformado muito rapidamente, dificultando o reconhecimento de características gerais. Hoje, o impacto da internet é objeto de pesquisa e teorização nos mais diversos campos acadêmicos das ciências humanas e sociais. Pensar que a internet comporta entender desde o desenvolvimento de seu potencial econômico, como uma rede dinamizadora do comércio, prestação de serviços públicos e privados, até o estudo das relações sociais nas redes sociais.

Redes sociais e a política

Um recorte importante de estudo é o impacto das redes sociais no mundo das práticas de cidadania e da política nas sociedades contemporâneas. Um dos tópicos muito discutido é a questão da supremacia do jornalismo virtual diante do tradicional jornalismo impresso. Outra questão muito relevante é a velocidade com a qual as notícias se disseminam, praticamente, de forma simultânea aos acontecimentos. Há atualmente, uma sinergia inevitável entre os veículos mais tradicionais de comunicação (TV e Rádio) e a internet.

Mais recentemente, muito tem se denunciado os perigos das “fake news” e os riscos de retrocessos democráticos, sobretudo em país de instituições democráticas frágeis. Nas últimas semanas, a denúncia de suposta comercialização ilegal de dados de perfis de redes sociais levam ao processo na justiça do proprietário do Facebook nos Estados Unidos da América, pois estes dados teriam o potencial de influenciar na vitória eleitoral do atual presidente Donald Trump.

Se por um lado, a internet e as redes sociais têm potencializado muitas organizações da sociedade civil em sua capacidade de comunicação mais ampla com a população, por outro, em país de frágeis instituições democráticas, as tradicionais estruturas do poder midiático têm cada vez mais “vampirizado” esse espaço, impondo-se por meio de seu poder econômico, controlando a pauta e o viés do debate político.

Isto é, se por um lado a internet propicia uma maior instrumentalização para as organizações progressistas avançarem na disputa da hegemonia, por outro, as elites econômicas, desejosas da manutenção de seus privilégios, logo perceberam a necessidade de ocupar esse espaço.

Ao tomar apenas como exemplo a história política recente do Brasil, poderemos observar que, nos principais momentos políticos que temos vivenciado, a presença das redes sociais como instância de enfrentamento político é evidente. No período das chamadas “Jornadas de Junho de 2013”, notabilizou-se a capacidade de mobilização social pelas convocações pelas redes sociais às manifestações de rua. Outro aspecto que chamou a atenção naquele contexto foi a documentação instantânea dos eventos, por meio de fotos e vídeos compartilhados. Os atos de agressão por parte da polícia militar, que não pouparam nem mesmo jornalistas das mídias tradicionais que faziam a cobertura nos locais, pipocavam nas redes sociais instantaneamente.

Grupos de jornalismo independentes, como o “Mídia Ninja”, faziam transmissões ao vivo no YouTube, das manifestações e da violência do aparato repressivo do Estado. Como sabemos, as manifestações que haviam iniciado em função do aumento da passagem de ônibus, por iniciativa do Movimento Passe Livre, acabaram se desvirtuando para uma catártica manifestação genérica, sem um foco de reivindicação, marcadas pelo espontaneísmo. Não tardou para que diversas tendências ideológicas de verniz conservador e reacionário tomassem parte do palco público oferecido pelos holofotes da internet e da grande mídia televisiva e extirpassem o potencial transformador daquelas manifestações.

Perdeu-se, naquele momento, uma oportunidade histórica para que se aprofundasse o debate sobre as reformas políticas e que estas se fizessem sob pressão e condução das forças e interesses populares.

Caminhando para o clima de polarização das eleições de 2014, tivemos a oportunidade de perceber que, pela primeira vez e de forma mais densa, o embate da propaganda política eleitoral foi travada, sobretudo nas redes sociais. Em 2014, o tema da toxidade do ambiente virtual emergiu contundentemente, como subproduto da linguagem agressiva gerada nas agências de publicidade contratadas pelos grupos empresariais que financiam os partidos políticos, responsáveis por disseminar propagandas políticas e “fake news” nas redes.

Evidenciou-se também, de forma reiterada, o despreparo do brasileiro para o debate político, tanto do ponto de vista da maturidade emocional, quanto do ponto de vista da carência de mínimo domínio de conceitos básicos para avaliar problemas sociais e políticas públicas. As redes sociais foram inundadas por uma multiplicidade de excrescências, manifestações de xenofobia, homofobia, machismo, racismo, preconceitos de classe, sectarismo partidário e toda sorte de disposições antidemocráticas, que transformaram as redes sociais em um verdadeiro esgoto a céu aberto. A discussão política acalorada levava constantemente à ofensas pessoais publicadas nos posts e comentários, principalmente do Facebook.

Paralelamente, no YouTube, multiplicou-se uma série de doutrinadores/comentaristas, sem credenciais para análises mais acuradas do contexto político vivido, produzindo a banalização da opinião política.

Grupos empresariais que financiam os partidos políticos logo perceberam a necessidade de conduzir nas redes sociais as pautas dos debates e também de acionar uma estratégia agressiva de destruição de reputações por meio de “fake news”, estratégias de manipulação pela desinformação ou simulação da informação. Para tanto, contrataram agências de publicidade de segunda categoria, responsáveis pela criação de perfis falsos e automatizados (robôs de redes sociais) operando a circulação massiva de propaganda política. Grupos como “Revoltados on-line”, “Movimento Brasil Livre (MBL), “Vem para Rua”, financiados por grupos empresariais golpistas, tiveram atuação destacada nas redes sociais no processo de mobilização social que levou às massivas manifestações de rua das classes médias, desprovidas de instrumentos de crítica, movimento este que operou a simulação do apoio “popular” ao golpe jurídico-parlamentar de 2016.

Sem a análise da importância das redes sociais, qualquer avaliação do processo político que culminou no golpe jurídico-parlamentar de 2016, ficará incompleta. Os desdobramentos são vivenciados ainda hoje, com a presença evidente das máquinas publicitárias de destruição de reputações, como ficou evidente pelas “fake news” espalhadas por ocasião do atentado político, ainda não esclarecido, da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, no contexto da intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro.

Com o intuito de represar a comoção social pelo assassinato da vereadora, conhecida por sua militância democrática, pessoas sem escrúpulos disseminaram falsas notícias de que ela tinha ligações com traficantes e até teria namorado um deles.

Então, vamos refletir?

Em suma, cada vez mais é urgente que o brasileiro recobre uma sobriedade acerca da necessidade de manter um espírito de vigilância e crítica nas redes sociais, que desconfie da origem e objetivos de “notícias” e assuntos “polêmicos” que pululam na internet. Infelizmente, embora as redes sociais possam ser um espaço importantíssimo para conectar as pessoas, potencializar a circulação de informação e conhecimento e para o aperfeiçoamento da cidadania, o que temos visto é justamente o contrário, esses espaços sendo dominados por profissionais da manipulação da opinião pública, combinados com as mídias tradicionais, capazes de fazer legitimar o golpe jurídico-parlamentar de 2016 e  promover o desvirtuamento da “Operação Lava-Jato”.

Aquilo que poderia funcionar com um instrumento de combate efetivo da corrupção no pais, a “Operação Lava-Jato” acabou se transformando numa peça de ficção. Embora os escândalos de corrupção mais recentes demonstrem o envolvimento de praticamente todos os grandes partidos políticos, o movimento golpista conseguiu manipular a opinião pública e fazer crer que apenas um dos partidos, o PT e sua liderança mais popular, Lula, sejam o mau a ser extirpado para que o bom e reto caminho retomemos. Embora o enredo seja grotesco e até ingênuo, diante do analfabetismo político da classe média conservadora, o enredo “cola” e provoca desvairados ódios ao “esquerdismo”, ao “petismo”, aos “Direitos Humanos” e aos “comunistas”.

Uma das figuras mais boçais desse processo de inflexão conservadora e disseminação exponencial da desinformação é o deputado Jair Bolsonaro, cuja a projeção nacional seria impensável sem as redes sociais e sem a desestruturação do ensino fundamental e médio no país.

O noticiário cotidiano fornecido pelas ações da “Operação Lava-Jato”, tem como uma das personagens mais notabilizadas o “juiz” Sérgio Moro (de ligações umbilicais com o PSDB), cuja atuação, pontilhada de contradições, tem foco preciso, Lula e o PT. Esse noticiário, replicado pelos boots e pagos ou gratuitos das redes sociais, tem construído a narrativa fictícia do combate à corrupção no Brasil, sendo que o próprio Governo Federal é hoje ocupado por um dos grupos com maior envolvimento em esquemas de corrupção já denunciados e assumiu o governo por meio do golpe jurídico-parlamentar de 2016. Configura-se, claramente, um governo à margem da legalidade.

Nem o Ministério Público, nem o STF, nem o “juiz” justiceiro da pátria, muito menos a grande mídia, algo fazem para denunciar, enquadrar e prender os corruptos que permanecem hoje no governo. Entretanto, a ênfase seletiva e constante no PT e na figura de Lula é absolutamente evidente, caracterizando, sem dúvidas, um processo de perseguição política orquestrada.

Recentemente, a Netflix, a mais famosa plataforma de streaming de séries e filmes da internet, lançou uma minissérie com nome “O Mecanismo”, do diretor José Padilha, que reforça ainda mais a farsa do combate à corrupção no Brasil. Talvez essa série seja a primeira que se constitui como uma ficção baseada em fatos fictícios, ou seja, mais uma forma de manipulação política operada por meio da internet, contribuindo para a afirmação de um senso seletivo de justiça da classe média conservadora, que quer se saciar com a prisão apenas de Lula do PT, deixando de fora de sua sede de justiça as lideranças de outros partidos, com envolvimento inequívoco no que pode ser o maior esquema de corrupção da história do Brasil.

Mais do que nunca, temos que estar vigilantes, pois, todo regime político que envereda para fora das normas constitucionais é frágil, uma vez que carece de legitimidade e pode, a qualquer momento, apelar para expedientes de força e autoritarismo. A internet seria um dos espaços onde as liberdades individuais poderiam ser atacadas no caso da elite brasileira resolver se lançar a passeios autocráticos, tal como é tradição. A presença marcante, na internet, de seguidores de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Nando Moura e outros, demonstrando, ainda que de forma difusa, um protofascismo posto na cena política presente.

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Fábio Pires Gavião

É Autor/Colaborador do UniversoNERD.Net. Professor de História e gamer na plataforma Xbox One nas horas vagas. GT: Gavian Gamer.

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