Precisamos Falar Sobre: Cem Anos de Solidão (Série)

Saudações meus caros nerds de plantão, amantes da boa literatura. Tudo bom convosco? É quase uma unanimidade entre as pessoas que são adeptas ao hábito da leitura que uma adaptação televisiva de uma obra literária nunca será tão boa e fiel quanto a história narrada por meio da escrita. Durante toda a existência do cinema, inúmeros são os casos que comprovam isso. Além de ignorar nosso poder de imaginação e dar, de pronto, todos os elementos da narrativa a partir da perspectiva dos diretores, um filme e uma série nunca serão tão detalhados quanto um romance. Se para livros “comuns” ou “famosinhos” essa regra já se aplica, imagine você, oh prendado leitor, para uma obra que foi a mais relevante para conceder a seu autor o Prêmio Nobel de Literatura! É por esses e outros motivos que, hoje, precisamos falar sobre a série Cem Anos de Solidão.

Lançada em dezembro de 2024 pela Netflix, Cem Anos de Solidão é uma produção televisiva baseada no romance homônimo publicado em 1967 pelo escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez. Dirigida pelo próprio filho de Gabriel, Alex Garcia Lópes, e Laura Mora, a série traz uma quantidade enorme de atores – na sua maioria, latino-americanos – destacando-se: Diego Vásquez, como José Arcadio Buendía; Marco González Ospina, como o jovem José Arcadio Buendía; Marleyda Soto, como Úrsula Iguarán; Susana Morales Canãs, como a jovem Úrsula; Claudio Cataño, como Coronel Aureliano Buendía; Loren Sofía, no papel de Amaranta; Janer Villarreal, como Arcadio; Akima, como Rebeca; Moreno Borja, como o alquimista Melquíades; dentre inúmeros outros, dado que a história mostra diversos personagens em várias fases de suas vidas.

 

Logo de cara, justamente na parte da narração, temos a diferença preponderante entre a série e obra literária: enquanto no livro a história das sete gerações da família Buendía é contada pelo que viu e previu o enigmático cigano alquimista Melquíades, na adaptação a história é contada pelo último Aureliano. Essa alteração facilitou que os fatos fossem narrados na ordem cronológica a fim de facilitar a compreensão dos telespectadores, já que, no romance – que não possui um tempo linear – em várias partes é fácil de ficar perdido e não saber ao certo de qual Aureliano, José ou Arcadio o narrador está se referindo! No fim, gostei muito dessa mudança, pois ela nos ajuda, claramente, a construir a árvore genealógica perfeita da família.

 

Independente desse justificável adendo quanto à narração, os acontecimentos seguem fiéis aos da obra literária. Essa primeira temporada, composta por oito episódios, termina no ponto em que os membros da quarta geração da família estão na adolescência. A segunda parte também terá mais oito episódios e dará conta do restante da história. Até o momento, a série foi impecável em respeitar a memória, vontade e estilo de Gabriel Garcia Márquez, tendo em vista que o autor sempre relutou em permitir que Cem Anos de Solidão tivesse uma adaptação para o cinema; porém, pedia que se algum dia alguém a fizesse, que fosse no idioma espanhol, filmada em solo colombiano e com atores locais ou latinos.

Todas essas exigências do falecido autor são notadas episódio a episódio. Mais do que isso! Os acontecimentos da história se passam no período pós-colonial da Colômbia, mais especificamente entre os anos de 1820 a 1920. A caracterização dos personagens, cenários, ambientação, músicas, fatos históricos… tudo se encaixa perfeitamente e está muito bem representado! O maior feitio da série, na minha opinião, foi a de transmitir – com excelência – o estilo pelo qual Garcia Márquez é conhecido como um dos maiores expoentes mundiais: o gênero realismo fantástico!

Muitas coisas mal explicadas e/ou sobrenaturais acontecem em Cem Anos de Solidão. Tudo bem se estivéssemos assistindo (ou lendo) algo relacionado a terror ou outros tipos de ficção. Mas não! Em meio a tantos elementos históricos e acontecimentos cotidianos reais, um padre flutua nos ares após comer chocolate; um povoado inteiro fica um ano sem dormir; alguém produz fortes tremores de terra quando faz sexo; entre outras coisas fantásticas que se misturam homogeneamente a um realismo bem natural. Simplesmente genial!

 

Enfim, não há muito a falar sobre a série, mesmo porque já afirmei que ela segue muito bem o roteiro de uma das maiores obras da literatura mundial! Não há spoilers aqui, pois tudo que falei é mais do que conhecido. Fica apenas minha singela dica: se você viu o card dela no catálogo da Netflix e pensou algo do tipo “não vou assistir porque tudo do cinema que vem de livro é decepcionante”, abandone logo essa ideia e vá apreciá-la sem medo de errar!

Fazia muito tempo que a mais popular das operadoras de streaming não lançava algo com tão alto nível de qualidade! Acaso não tenha lido o livro, é uma boa ideia lê-lo após assistir à série. Vai ajudar muito na localização temporal dos acontecimentos. Quer do cinema ou literatura, só não fique alheio à história de Cem Anos de Solidão, um dos maiores romances de todos os tempos!

Abraços e até breve.

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