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O Desaparecimento Da Letra Cursiva Será Uma Grande Perda Para A Humanidade

O Desaparecimento Da Letra Cursiva Será Uma Grande Perda Para A Humanidade

Olá, queridos leitores. Hoje trago para vocês um assunto que tem sido abordado cada vez mais no âmbito educacional: a substituição da letra cursiva no ensino da escrita. O argumento utilizado para essa substituição é muito simples: a cópia de longos textos, utilizando papel e caneta ou lápis tem perdido espaço para o uso de teclas e dispositivos digitais. Mas, será que isso chegará a acontecer um dia?

Será que a escrita cursiva será totalmente extinta?

 Bem, para começarmos, vamos entender a definição de letra cursiva e qual a sua origem.

Cursivo é o nome dado a qualquer estilo de letra manual, projetada para agilizar o ato de escrever. Na minha época de escola, a famosa “letra de mão”. Porém, essa foi uma expressão que sumiu com o passar dos anos, assim como o ensino da letra cursiva vem ocupando cada vez menos espaço.

A escrita é a evolução do desenho, sempre foi. Cada figura desenhada nas paredes de uma caverna, representava um objeto: um peixe, uma flecha ou até mesmo ações comuns do dia a dia daquelas pessoas, como andar, nadar, pescar e por ai vai. Isso é chamado de Pictografia, ou seja, o significado vem diretamente do desenho ou da figura que o representa. Por isso, até hoje, temos línguas que possuem símbolos, ao invés de usar o sistema fonético, o qual utilizamos na língua portuguesa e em muitas outras. Imagine, hoje, se tivéssemos que desenhar tudo que quiséssemos expressar? Seria realmente insano!

A Cronologia da Escrita

Abaixo, colocarei algumas imagens em ordem cronológica, do surgimento até o desenvolvimento da escrita. Há cerca de 17 mil anos atrás, o homem já sentia a necessidade de se comunicar, mesmo sem saber como. Então, surgiram as primeiras mensagens gravadas nas paredes das cavernas, através de desenhos e sinais. Vamos lembrar que existe um fator em comum entre a escrita e esses desenhos que surgiram há tantos anos atrás: a mão que desenha os traços. Observem:

Pequena placa de Uruk (detalhe). Séc. IV a.C., Mesopotâmia, Museu do Iraque, Bagdá.

Antigo hieróglifo egípcio.

Primeiro alfabeto, inicialmente cuneiforme (a) e posteriormente linear (b).

Desenvolvimento do alfabeto grego a partir do fenício.

Desenvolvimento do alfabeto romano a partir do fenício.

Durante séculos, a letra cursiva foi vista como uma forma de arte. Porém, para o público mais jovem, ela permanece como um mistério. Para alguns especialistas, faz sentido abandonar a letra cursiva, pois seu trabalho é parecido ao que os copistas faziam na Idade Média. Obras sagradas ou clássicas eram reescritas e, na verdade, os copistas focavam somente no traço das letras. Muitos deles não nem ler.

Com o passar dos anos, com o renascimento do comércio e a industrialização, esse tipo de escrita foi expandido para um numero maior de pessoas.

Até o início do século XX, todas as anotações de maior importância eram feitas à mão, por isso, várias adaptações foram necessárias, para que a escrita fosse algo mais prático. Sem traços rebuscados, característicos do período Renascentista.

À esquerda, O Livro de Horas, manuscrito em pergaminho, França, 1480; à direita, Escrita gótica, textura, 900 d.C.

Cícero, De Oratore, Florença, 1428, caligrafado por Poccio Bracciolini

Quando finalmente, um número maior de pessoas começou a frequentar a escola, esse tipo de escrita tornou-se fundamental no ambiente escolar. O importante era uma boa escrita, com traços bem definidos. Isso demonstrava que o indivíduo tinha um alto grau de instrução.

Porém, em meados do século XX, novas abordagens para o processo de alfabetização, mais focada nas hipóteses de escrita da própria criança, envolvida nas práticas sociais e no contexto inserido, modificou-se a forma de entendimento desse aprendizado. Os longos exercícios de cópia e de caligrafia cederam lugar à atividades mais ligadas ao modo como o indivíduo interage com textos fora do mundo escolar. E claro, neste contexto, as ferramentas digitais como tablets, computadores e celulares tomam conta do cenário.

A caligrafia tinha um papel muito importante no ensino tradicional, porém, ela foi praticamente deixada de lado, com a chegada do construtivismo à escola…

… o qual defende que a criança que constrói seu conhecimento e deve ter a liberdade de se apropriar desse saber. Ensina-se, primeiro, a relação entre grafema (unidade de sistema de escrita, ou seja, as letras) e fonema (menor unidade sonora do sistema fonológico de uma língua). Feito esse processo, é necessário ensinar o movimento correto das letras, ou seja, o vai e volta.

Em 2015, na Finlândia, uma medida polêmica, simplesmente, chocou a todos. Campeã nas avaliações internacionais da Educação Básica, a partir do ano de 2016, aboliria o ensino de letra cursiva de suas escolas. A discussão teve uma repercussão muito grande. Nos Estados Unidos, algumas escolas chegaram a cogitar em seguir o mesmo caminho, ou em transformar o tempo gasto com o ensino da caligrafia, para um tempo maior de aprendizado do manuseio das ferramentas digitais.

Aqui no Brasil, o ensino não foi abolido e nem se quer cogitou-se essa hipótese.

Um estudo feito na Universidade de Washington comparou a atividade cerebral de um grupo de crianças em três momentos: ao digitar um texto no computador, ao escrever com letra bastão e ao escrever utilizando a letra cursiva. Este último momento foi o que mais demonstrou ligações com várias áreas do cérebro.

Não consigo deixar de pensar nisso e sentir uma certa tristeza. Não é só uma forma de comunicação que está desaparecendo, “apenas” para deixar tudo de forma mais prática.

O surgimento da escrita foi um marco, situado entre o pré-história e a história da civilização.

Além disso, alguns profissionais defendem a ideia de que a falta da habilidade em escrever com letra cursiva, provoca a demora para a ativação de algumas partes cerebrais. O desenvolvimento de algumas partes está ligado ao aprendizado da letra cursiva, uma vez que essa atividade desenvolve as ligações sinápticas, que são as ligações entre as terminações nervosas e os neurônios, também com as células musculares ou glandulares. Através dessas ligações é que controlamos a flexibilidade, a pressão e o movimento. Na verdade, eu não acredito nessa ideia. Existem países como o Japão, por exemplo, onde não se utiliza letra cursiva e a população não foi prejudicada em momento nenhum pela falta do uso dela.

Ligações Sinápticas, responsáveis pelos movimentos do corpo, pontos de equilíbrio e sustentação.

Alguns povos conservaram a escrita cursiva, como foi o caso dos Àrabes. Enquanto nós nos preocupamos o tempo inteiro com letra feia ou letra bonita, o árabe fez de sua escrita, uma verdadeira obra de arte. Porém, mesmo não nos preocupando com esse desaparecimento, não esqueçamos que o computador, notebook ou qualquer outro dispositivo que utilizamos, só possui a variação tipográfica que tem, graças à prática da escrita.

A letra cursiva, hoje em dia, não é mais obrigatória. O importante é que ela faça sentido e tenha um significado: comunicação. Hoje, com a escola inclusiva que temos, faz-se necessário abrir mão de algumas práticas escolares, até porque em algumas escolas é assim que funciona, para podermos proporcionar um aprendizado adequado às crianças. Uma dessas práticas é a leitura. Inclusão e letra cursiva, definitivamente, andam em paralelo, graças à falta de preparo de alguns profissionais e a falta de fornecimento de recursos.

Mas, esse é um assunto para um próximo artigo. Até a próxima!

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Bibliografias: As imagens deste texto foram pesquisadas e encontradas nas seguintes obras:

BOMENY, Maria Helena Werneck. Os Manuais de Desenho da Escrita. São Paulo: Ateliê Editorial, 2010.
JEAN, Georges. A escrita: memória dos homens. Tradução Lídia da Mota Amaral. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. (Descobertas)
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Paula Souza

É Editora e Autora do UniversoNERD.Net, Professora de Língua Portuguesa e Inglesa, amante de leitura e Literatura, além de gamer nas horas vagas.

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