Tela Klassik: O Exorcista

Saudações, meus caros nerds amedrontados de plantão! Tudo bom convosco? No Tela Klassik de hoje, trarei minhas considerações e algumas curiosidades sobre um filme que, sem dúvida alguma, é ícone de um gênero cinematográfico que atualmente está tão carente de inovação e bons títulos.

Desde pequeno, os filmes de terror me encantam. Porém, com a aquisição de novos conhecimentos e cultura, bem como pelo amadurecimento do meu senso crítico, é raro um filme desse tipo (e de comédia também!) conseguir me agradar. Já não aguento mais tudo o que envolva casas mal-assombradas, fantasminhas de crianças que morreram misteriosamente e espíritos zombeteiros que persistem em permanecer nesse plano só para encher o saco dos vivos! E, claro: tudo isso regrado a sustos provocados por mudança repentina de imagem e aumento exponencial de som… já deu, né?!

O filme em questão, apesar de fazer o uso desses recursos – que não eram tão batidos em 1973, ano de seu lançamento – ,se destaca por aquilo que, na minha opinião, caracteriza os bons filmes de terror, que é a capacidade de transmitir ao telespectador os sentimentos de repulsa, empatia, pena e perturbação por meio de cenas assustadoras. Estou falando de O Exorcista.

Dirigido por Willian Friedkin, O Exorcista foi lançado nos Estados Unidos um dia após o Natal de 1973 e distribuído para o resto do mundo quase um ano depois. O filme foi inspirado no livro de mesmo nome, escrito por Willian Peter Blatty (também roteirista do filme), que conta o caso de possessão e exorcismo de um adolescente ocorrido no ano de 1949.

Nos papéis principais estão Ellen Burstyn, como Chris MacNeil; Jason Miller, como o padre Damien Karras; Max von Sydow, no papel do heroico padre Lankester Merrin; e a fofíssima Linda Blair como Regan MacNeil, em plena pré-adolescência. O filme, com pouco mais de duas horas de duração, não possui um enredo complicado. Na verdade, boa parte desse tempo serve para posicionar a situação emocional de cada um dos personagens.

Mesmo sendo o primeiro filme da franquia, cronologicamente, O Exorcista se passa muito tempo após os eventos de Exorcista: O Início (2004). Por esse motivo, a história começa com o já idoso e debilitado padre Merrin realizando escavações em um sítio arqueológico no Iraque e encontrando uma pequena estatueta do demônio Pazuzu; ser esse que já havia confrontado em um desgastante e violento exorcismo.

Ao mesmo tempo, em Georgetown, um padre psicólogo, chamado Karras, além de não estar mais certo de sua fé, convive com a doença terminal e teimosia da mãe, que mesmo incapaz de se cuidar sozinha, prefere ficar em casa ao invés de ser internada num local onde possa receber tratamento e atenção, já que ele não dispõe de tempo integral para ficar com ela. Karras até chega a realizar a internação. Porém, com a constante reclamação de sua mãe, ele a leva de volta para casa, onde, dias depois, ela veio a falecer, sendo encontrada três dias depois de morta, logicamente, por ele próprio.

É também em Georgetown que ocorrem as gravações do novo filme de Chris MacNeal, famosa atriz hollywoodiana. Chris percebe que sua filha, Regan – uma pré-adolescente de 12 anos – ,começa a ter uma acentuada mudança de comportamento e saúde: convulsões, personalidade agressiva, vômitos, fortes espasmos, dores… toda a ajuda provinda de médicos e especialistas que seu dinheiro pôde pagar não deu conta de descobrir a origem dos problemas da menina.

Como última cartada dos médicos, foi aconselhada a procurar ajuda psicológica. Como já suspeitava que a fonte dos problemas era algo sobrenatural, decidiu recorrer a um psicólogo religioso. É depois de toda essa volta, meu ansioso nerd, que o destino deu conta de unir todos os nossos protagonistas.

Nessas alturas, a possessão sofrida por Regan a deixou num estado deplorável! Muitas das coisas que a garotinha endemoniada falou e fez é melhor que não sejam reproduzidas aqui! Basta dizer que me contento, “apenas”, em dizer que ela vomitou sangue e gosma verde, virou a cabeça dando uma volta de mais de 360º no pescoço, desceu as escadas como se fosse uma “aranha invertida” e matou um homem, arremessando-o da janela do seu quarto.

No primeiro encontro, Karras, que suspeitava que a menina era acometida por uma grave neurose, mudou de opinião quando ouviu as gravações da entrevista, que mostraram que Regan falava por meio de várias vozes ao mesmo tempo, além de proferir frases em outros idiomas que nunca havia tido contato antes. Com base nessas provas, a Igreja Católica consentiu na realização do ritual de exorcismo. Mas, para isso, seria melhor convocar um padre mais experiente no assunto. Adivinha, meu sagaz nerd, quem foi chamado para o trampo?

As cenas que vêm a seguir são sublimes! A começar pela chegada do padre Merrin à casa de Chris MacNeil e o olhar do Pazuzu ao pressentir o fato. Cena icônica! Bela fotografia! Outra coisa marcante é o encontro entre os padres, onde Karras tenta explicar a situação e as condições de Regan, mas Merrin o interrompe por não haver necessidade de explicações, apenas a de se preparar para o mais puro mal que iriam enfrentar, advertindo-o das provocações, ataques e táticas psicológicas do demônio.

E assim, começa o “primeiro round” do exorcismo. Novamente, as blasfêmias ditas por Regan não são legais de serem colocadas aqui. O destaque fica para a cara de espanto que o padre Karras faz durante a seção. Acontece tanta coisa sobrenatural que ele fica boquiaberto e mal consegue prestar atenção na sua função, que consiste em auxiliar Merrin no ritual.

Com a menina menos agitada e amarrada na cama, eles decidem fazer uma pausa para depois poder começarem uma nova seção de exorcismo. Fisicamente, Merrin está acabado, trêmulo e mal consegue permanecer em pé. No banheiro, toma seu remédio para o coração, se limpa e volta para o quarto.

Enquanto isso, Karras sofria o ataque psicológico mais notório do filme! Encarando Regan, ele passou a enxergar a própria mãe. O demônio, imitando a voz da falecida, falava coisas “agradáveis”, do tipo “Por que você me abandonou, filho?” e “Está quente aqui! Estou queimando, Damien!”. Não suportando isso, o inexperiente padre começa a chorar e a gritar com o provocador, perdendo, totalmente, sua razão e concentração.

Sentindo que o novato seria o elo fraco da corrente, Merrin o tira do quarto e decide realizar sozinho o ritual. A cena então passa a focar em Karras, que extremamente abalado, ficou do lado de fora, esperando alguma orientação do padre veterano. Quando percebeu que um silêncio ininterrupto prevaleceu dentro do quarto, resolveu entrar. Nesse momento, encontrou Merrin morto na cama e Regan, diabolicamente, sorrindo.

Karras, que não teria fé suficiente para resolver a parada, e nem conhecimento e domínio para completar o ritual, aproveitou que já estava de saco cheio daquele demônio e tentou resolver as coisas do jeito mais simples que podia: à base de porrada! Falando assim, meu hilariante nerd, pode até parecer que a cena é engraçada. Mas não é…

Novamente, avança sobre Regan. Ao mesmo tempo em que desfere golpes e tenta sufocá-la, Karras grita para que o demônio deixe a menina e se aposse dele. Após alguns segundos, é justamente isso que acaba acontecendo. Com o demônio agora em seu corpo, o padre pula da janela (bem alta em relação ao nível da rua), espatifando-se do lado de fora. Finalmente, a garotinha volta a si, sem lembrar de nada que acontecera consigo. E assim termina o filme, sem se saber ao certo o que aconteceu com o padre Karras e Chris e sua filha retornando para Los Angeles.

Chocante, não é mesmo, meu assombrado nerd?! Igualmente são as polêmicas por trás dos bastidores do filme. São tantas as histórias curiosas ou trágicas dos bastidores de O Exorcista que se eu fosse citar todas, teria que dividir isso em várias matérias! Talvez a mais curiosas delas seja o fato de que o pessoal da filmagem e alguns atores acreditavam que o set de filmagens estava realmente assombrado.

Além de um pequeno incêndio que houve no local e consumiu boa parte da área interna da casa dos MacNeil (menos o quarto da Regan… por que será?!), algumas pessoas afirmaram sentir e ouvir coisas estranhas dentro do estúdio. Com a finalidade de acalmar os ânimos, a direção do filme achou prudente chamar um padre jesuíta para benzer o local. Hoje, fica fácil de julgarmos essa ação como uma sábia jogada de marketing. Porém, durante o período das gravações, nove pessoas entre atores coadjuvantes e familiares do elenco morreram. Sem dúvida, isso contribuiu para fomentar as polêmicas em relação ao filme e o medo de seus envolvidos.

Lendas a parte, o fato é que O Exorcista foi o primeiro e único filme legitimamente de terror a ser indicado para o Oscar de melhor filme. Como ganhador, conquistou o Oscar de melhor som e melhor roteiro adaptado, além de quatro Globos de Ouro, dentre eles, o de melhor filme. Sucesso absoluto de receita, com um orçamento de U$$ 12 milhões de dólares, rendeu cerca de U$$440 milhões, garantindo a criação da franquia com mais outros dois filmes em sequência.

Por hoje é isso, meus assustados nerds! Se ainda não teve a oportunidade (ou coragem) de assistir essa bela obra do gênero terror, espero que esse texto dê o empurrãozinho que faltava. Quando o fizer, preste atenção e perceba o quão bom um filme do estilo pode ser sem que seja necessário seguir a receita tão batida e chata dos concorrentes da atualidade. Às vezes, frases bem ditas, que batem lá no âmago do personagem, assustam muito mais do que aquele palhacinho ou freirinha que aparecerão, de repente, exatamente naquele local que você está esperando.

Abraços e até breve!

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