Precisamos Falar Sobre: Clarice

Saudações, meus caros nerds e aficionados por seriais killers de plantão! Tudo bom convosco? Por aqui, já contei que tenho o costume de deixar selecionado as séries que irei assistir e guardar, para o final, aquelas que mais quero ver. Esse tipo de tortura autoinfligida acaba me fazendo maratonar os títulos “meia-boca” e criar enormes expectativas para os que mais anseio. Então, imaginem vocês eu ter guardado – desde o final do ano passado – um spin-off da filmografia de filmes de investigação de assassinatos em série que mais idolatro?! É por esses e outros motivos que, hoje, precisamos falar sobre Clarice.

Lançada no Brasil pela Amazon Prime no final de 2022, Clarice é uma série spin-off da filmografia iniciada pelo fantástico O Silêncio dos Inocentes, cujas principais figuras são o serial killer Hannibal Lecter e Clarice Starling, a novata agente do FBI que é destacada para, inicialmente, lidar com ele e, na sequência dos acontecimentos, caçá-lo. Criada por Jenny Lumet e Alex Kurtzman, a obra traz no seu elenco nomes como Rebeca Breed no papel da protagonista; Michael Cudlitz como Paul Krendle, líder da força tarefa do FBI denominada Violent Criminal Apprehension Program (ViCAP); o nova-iorquino, filhos de imigrantes brasileiros, Lucca de Oliveira, como o agente Tomas Esquivel; Nick Sandow no papel do agente veterano Murray Clarke; Kal Penn como o agente Shaan Tripathi; Devyn Tyler, interpretando a agente e melhor amiga de Clarice, Ardelia Mapp; Jayne Atkinson como a senadora Ruth Martin; Marnee Carpenter, no papel de Catherine Martin, a filha da senadora salva por Clarice em Silêncio dos Inocentes; dentre outros nomes.

Cronologicamente, os acontecimentos da série se passam após alguns meses de Clarice matar o serial killer Buffalo Bill e resgatar Catherine, a filha da senadora Ruth Martin. Por indicação desta, ela acaba indo trabalhar em Washigton com o líder da ViCAP, Paul Klender, a fim de integrar sua equipe, mesmo a contragosto do experiente agente. Ainda atormentada pelas recordações e traumas da infância, bem como pelo stress passado logo em sua primeira atuação como agente de campo, Clarice terá que lidar com toda politicagem e burocracia características do FBI da capital americana para provar o seu valor como uma policial federal e mostrar que não foi mera sorte o fato de ter capturado, sozinha, um assassino tão perigoso – motivo este que lhe rendeu muita fama e proteção de políticos influentes.

Para não spoilar muito, basta dizer que a trama principal da série será baseada na investigação de casos de mulheres encontradas assassinadas e que foram atribuídos a um suposto “novo serial killer no pedaço”! Compondo a ViCAP, uma força tarefa criada para solucionar crimes violentos, Clarice passa a investigar essas ocorrências e, logo de cara, descobre uma enorme conspiração por detrás daquilo que se apresenta. Evidentemente, seu olhar não-ortodoxo é duramente criticado por Klender, que tenta, a todo custo, conduzir a novata em “rédeas curtas”.

Dessa forma, temos uma obra que aborda, sobretudo, o tema do machismo. Ambientada no início dos anos 90 (mais especificamente no ano de 1993), a série nos apresenta um FBI ainda não acostumado com mulheres em funções e posições hierárquicas iguais às dos homens. Clarice dificilmente é ouvida, é tida como fraca e constantemente ridicularizada. Os outros agentes acreditam que a jovem está na equipe não por méritos, mas, sim, exclusivamente por determinação da senadora, já que foi a salvadora de sua filha.

Além do machismo, outro problema destacado na série como característico da agência federal do final do século passado é a questão do racismo racial. Todos os agentes negros do Federal Bureau of Investigation estão em posições subalternas e são impedidos de ascender na organização. Imaginem então, meus safos nerds, o quanto isso seria ainda mais difícil para mulheres dessa etnia! Algum tempo da obra será dedicada em exibir o drama de Ardelia Mapp, a agente e melhor amiga com quem Clarice mora junto e até detém um clima de romance. Buscando reconhecimento por mérito, Ardelia viverá o dilema se deverá ou não se unir a um grupo de agentes negros que intentam buscar igualdade dentro do FBI por meio de briga judicial.

Basicamente, o enredo da série se dividirá nesses conflitos. O telespectador pode esperar por cenas de ação (algumas até de luta corporal), suspense, investigação e uma boa dose de drama, principalmente quando focar nos flashbacks de Clarice em relação a sua infância e momentos antes da captura de Bill; e no stress pós-traumático de Ruth, que está em situação de depressão profunda e longe de superar o que vivenciou nos acontecimentos de O Silêncio dos Inocentes.

Seguindo a tradição da saga – e que foi especialmente caprichado na série Hannibal – há uma atenção especial no foco de detalhes e sensações. A todo tempo, a câmera se aproxima e nos exibe, com riqueza, detalhes de coisas que passariam desapercebidas, tais como gotas de sangue pingando ou escorrendo no chão, todas as minúcias de uma mariposa “cabeça da morte”, e sons que seriam inaudíveis em meio a tantas informações. É inegável que toda essa brincadeira com os nossos cinco sentidos aumenta nossa atenção e tensão para aquilo que estamos prestes a presenciar.

Mesmo não chamando a atenção do grande público e não tendo garantida uma segunda temporada, a série é sim excelente, ainda mais para mentes mais atentas que prestam atenção nos temas que são panos de fundo na obra. Portanto, meu caro nerd, não faça como eu: caso ainda não tenha assistido Clarice, não a deixe para mais tarde! Quanto a mim, prometo parar com esse vício de reservar o melhor só para o final a fim de trazer – o mais rápido possível – as novidades para vocês e dar dicas de coisas boas para que não perca seu tempo com porcarias!

Abraços e até breve.

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