Olá, queridos leitores. Há uns dias, em sala de aula, me deparei com esse tema, caligramas, e confesso que nunca havia ouvido falar a respeito. Talvez até tenha estudado em algum momento, mas com algum outro nome, já que algumas coisas mudaram muito na Língua Portuguesa, nos últimos tempos. Vocês sabem o que significa? Vamos conhecer?
O termo tem origem francesa na palavra “calligramme” e diz respeito a um texto o qual, dependendo da posição das letras, forma um desenho que tem tudo a ver com o tema abordado. Esse tipo de recurso é muito usado em poesias.
Assim, podemos dizer que os caligramas fazem parte da poesia visual, onde as palavras criam a imagem exata do que elas expressam.

Essa imagem é uma belíssima homenagem visual ao poeta português Fernando Pessoa, feita com a técnica do caligrama, onde o texto é usado para formar uma figura, neste caso, o próprio rosto do poeta. O conteúdo textual que compõe o desenho parece ser extraído de trechos de suas obras, com frases fragmentadas que citam temas centrais de sua poesia, como identidade, morte, rotina e introspecção.
Vamos ver algumas frases presentes nessa imagem e seus significados:
- “Fechei os olhos e deixei de ver” – faz menção à ideia de desligamento do mundo sensível, algo comum e constante na obra de Fernando Pessoa, especialmente nas obras sob o pseudônimo de Alberto Caeiro.
- “…depois de eu morrer…” / “Tem só duas datas —, a da minha nascença e a da minha morte.” – remete a uma reflexão sobre finitude, um tema que se apresenta de forma constante em seus textos, onde a morte é vista como parte da construção de uma identidade.
- “…todos os dias / “Entre uma e outra…” – podem indicar a repetição da vida cotidiana, o tédio existencial ou a busca por sentido entre os momentos.
- “Não há nada mais simples…” – talvez uma ironia sobre a complexidade do ser, algo que Fernando Pessoa explorava com profundidade.
Além disso, a forma do rosto e seus acessórios (chapéu, óculos, bigode e gravata borboleta), reforçam a imagem icônica do autor, quase como um símbolo das múltiplas apresentações de seus heterônimos.
Esse tipo de arte não apenas celebra a figura de Pessoa, mas também transforma sua poesia em algo visualmente tangível, como se suas palavras literalmente desenhassem sua identidade.
Com o passar dos anos, muitos escritores se destacaram por seus caligramas. Mas, um dos nomes mais importantes foi Guillaume Apollinaire, poeta francês, nascido em 1980 e faleciudo em 1918. O espanhol Gerardo Diego, o cubano Guillhermo Cabrera Infante, o chileno Vicente Huidobro e o argentino Oliverio Girondo são outros nomes de autores de caligramas.
Origem Histórica
Os caligramas ganharam destaque no século XX, especialmente dentro do movimento do cubismo literário e das correntes artísticas de vanguarda. No entanto, suas origens remontam à antiguidade clássica, com registros na Grécia helenística. Um dos primeiros exemplos conhecidos é atribuído ao poeta grego Símias de Rodes, por volta de 300 a.C., cujas obras intituladas “Machado”, “Ovo” e “Ai” já exploravam a disposição visual das palavras como parte essencial da mensagem poética.
Na tradição árabe medieval, também era frequente o uso de composições poéticas em formas visuais, evidenciando uma forte conexão entre texto e imagem. Já na época greco-romana, manifestações de poesia visual como o carmina figurata permitiam que os poemas fossem incorporados a objetos rituais, oferendas ou criações artísticas, reforçando o elo entre estética e conteúdo literário.
Durante a Idade Média europeia, também se multiplicaram os registros de poesia visual, especialmente em forma de caligramas com temática religiosa.
Esses poemas, ao longo dos séculos, passaram a ocupar um espaço significativo na manifestação da fé e na produção de obras literárias ornamentadas, onde o conteúdo espiritual se unia à estética gráfica.
No começo do século XX, o caligrama atingiu seu auge nas mãos de escritores como Guillaume Apollinaire, que o utilizou como ferramenta para explorar novas possibilidades de expressão artística. Apollinaire foi uma figura central no cubismo literário e, por meio de sua obra Caligramas: Poèmes de la paix et de la guerre (1913–1916), eternizou alguns dos exemplos mais emblemáticos desse estilo. Seus poemas se destacam pela forte dimensão visual, combinando elementos gráficos e literários em composições onde a forma dialoga diretamente com o conteúdo textual.
Esse movimento inovador não ficou restrito ao continente europeu. Na América Latina, poetas como Vicente Huidobro (Chile), Juan José Tablada (México) e Jorge Eduardo Eielson (Peru) também abraçaram o caligrama como forma de romper com os modelos poéticos convencionais. Huidobro, em especial, foi pioneiro ao integrar a caligrafia ao criacionismo, defendendo que o papel do poeta é inventar mundos próprios, em vez de apenas retratar a realidade.
Características
Entre os caligramas, existem características que os diferenciam. Vamos conhecer?
- palavra x imagem integradas: utilizam a tipografia e a forma como é feito o arranjo de palavras, para que seja criada uma imagem que se relacione ao tema do poema.
- exploração de formas: É comum o uso de estruturas visuais incomuns, embora muitas vezes se recorra a silhuetas reconhecíveis para facilitar a associação com o tema.
- Brincadeira com o sentido Jogos de linguagem, como trocadilhos e significados múltiplos, são empregados para gerar ambiguidade e enriquecer a interpretação do texto.
- Expressão visual da poesia Ao transformar o poema em uma experiência visual, adiciona-se uma camada estética e emocional que amplia o impacto da obra.
- Criatividade como essência A união entre talento literário e sensibilidade artística permite que poetas e criadores desenvolvam formas de expressão originais e inovadoras.



Como é feito um Caligrama?
Criar um Caligrama, não é uma tarefa muito fácil, como vocês devem ter percebido. A primeira coisa a se fazer é a escolha do tema que, na verdade, pode ser qualquer coisa, desde uma flor até um sentimento.
O importante é você saber exatamente sobre o que vai falar. Por exemplo, eu quero falar sobre café e faço o Caligrama de um animal selvagem. È necessário tomar bastante cuidado com isso.
Após a escolha do tema, vocês poderão continuar com o próximo passo, que é a escrita do texto. Vocês devem organizar o texto de acordo com a forma que será construída. Nesse ponto, vocês deverão decidir se vão querer ajuda de textos existentes ou se vão querer elaborar seu próprio texto.
Partindo para o próximo passo, chegou a hora de pensar na imagem que será criada. Vocês poderão brincar com os desenhos, fazendo alguns rascunhos, até chegar na imagem final. Vocês também poderão fazer as palavras no formato da imagem ou simplesmente colocar as palavras em lugares específicos para criar a imagem.
Por fim, chegamos a parte final onde vocês deverão experimentar vários tamanhos, fontes, podendo até trabalhar com cores para atingir o design e o efeito desejado. Acreditem, essa parte é muito importante, pois tratará da primeira impressão que seu Caligrama vai passar para o leitor.
Feito todo esse passo a passo, revise seu Caligrama para concluir. Difícil?
Vou ficando por aqui, Espero que tenham gostado! Até a próxima!
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