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Altered Carbon ressuscita temas polêmicos

Altered Carbon ressuscita temas polêmicos

Olá, queridos leitores. Hoje, quero contar um pouquinho para vocês sobre uma série da Netflix que não foi muito divulgada, mas é bem interessante. Os leitores pediram, portanto, está aqui: Altered Carbon. Vamos conferir?

Confesso a vocês que no começo, a série não me atraiu muito. O tema é interessante, porém, os efeitos são um pouco forçados. Mas, para quem gosta desse estilo, vale a pena conferir. Mas, tenham cuidado! Para quem não viu, este artigo pode conter spoilers rs.

Um pouco sobre a série…

Trata-se de uma série de ficção científica criada por Laeta Kalogridis, baseada em um livro de Richard K. Morgan. Gravada em 2 temporadas, a primeira é composta por 10 episódios e a segunda, por 8. Teve sua estreia na Netflix em fevereiro de 2018 e uma audiência considerável.

A série se passa em 364 anos no futuro, exatamente no ano de 2384, em uma cidade chamada Bay City, que na verdade é a famosa San Francisco no futuro, onde as pessoas podem decantar suas memórias em um dispositivo em forma de disco, a pilha cortical, implantada na parte de trás do pescoço dos indivíduos. Esse dispositivo provém de uma tecnologia alienígena e forma submetidos à engenharia reversa e produzidos em massa.

Os corpos físicos, humanos ou sintéticos, são simplesmente “capas” e após a morte dos indivíduos, as pilhas podem ser transferidas para outros corpos dando o “dom” da imortalidade de certa forma. Porém, ainda assim, é possível matar alguém se sua pilha for destruída.

Para que o espectador possa entender a história da série é preciso ficar bem atento, pois nos primeiros capítulos alguns pontos se tornam bem confusos, como a volta de Takeshi Kovacs em outro corpo, com trejeitos e detalhes bem diferentes de seu corpo anterior. A primeira temporada é recheada de acontecimentos alucinantes, porém, não apresenta muita fundamentação desses acontecimentos, por isso se torna tão confusa.

Takeshi Kovacs, primeira e segunda temporada.

Teoricamente, qualquer um poderia reviver em outro corpo, porém, somente os mais ricos conseguem fazê-lo, conhecidos como “Matusa”, em referência ao patriarca bíblico, Matusalém, presente no judaísmo, cristianismo e islamismo, conhecido por ser o personagem de toda a Bíblia que mais viveu.

Através deste fato, a série apresenta a absurda distinção social, em um mundo futurista distópico, onde os ricos não só conseguem trocar de “capa” quantas vezes quiserem, mas também conseguem escolher suas capas. Ao passo que a parcela pobre da população tem que se conformar com a “capa” disponibilizada para si ou para qualquer parente que necessite dessa troca.

Matusas, a elite poderosa.

No estilo cyberpunk, conhecemos a história de Takeshi Kovacs, um agente a serviço da política, com impressionantes habilidades mercenárias, o qual é o único sobrevivente de um grupo rebelde chamado “Emissários”, derrotado em uma revolta contra essa nova ordem mundial. Após 250 anos dessa derrota, preso em congelamento, seu “stack” (disco cortical) é retirado da prisão pelo Matusa Lauren Bancroft, um dos homens mais ricos e poderosos do mundo, com seus 300 anos de idade, para lhe dar uma oportunidade: a de reviver um assassinato, o do próprio Bancroft, e ter a oportunidade de viver novamente.

Apesar de ser um mundo com uma tecnologia tão avançada e tão presente, dando uma certa “frieza” às pessoas, existe um lado humano na história, que às vezes aflora.

Os Acontecimentos

Durante a primeira temporada, presenciamos, por diversas vezes, as memórias de Takeshi, inconformado pelo corpo que lhe deram em seu “retorno” à vida. Ele volta, determinado a encontrar Quellcrist Falconer, também conhecida como Quell, a líder dos Envoys e antigo affair do protagonista.

Pausa aqui para explicar o que são os Envoys. O termo significa “Enviados” e trata-se de super soldados, os quais trabalhavam para o Protetorado da ONU, que governava a Terra e todas as colônias humanas, treinados para resistir aos traumas psicológicos do “renascimento” em outras “capas”. As pessoas normais enlouqueciam após renascerem tantas vezes, mas esses soldados eram treinados para isso, se adaptando facilmente.

Continuando….

Após muitos anos congelado, o protagonista renasce e é levado para seu planeta-natal, Harlan´s World, com o objetivo de encontrar sua amada, mesmo em seu novo corpo. Aqui, vemos um pouco do toque da humanidade que falei acima, lembram? Apesar de toda a fria tecnologia mostrada, ainda existiam pessoas que se deixavam levar pelo afeto.

A história fica ainda um pouco mais confusa na segunda temporada quando são mostradas as duas “capas” de Takeshi: a anterior, com todas as suas habilidades mercenárias e marciais, e a atual, bem mais aprimorada, menos confusa com o que está acontecendo.

As cenas de lutas e confrontos mostram um personagem com movimentos e reflexos bem mais acelerados e frenéticos, bem mais ensaiados do que anteriormente. Mas, mesmo sendo um personagem mais definido e com os “pés mais no chão”, Kovacs continua sem carisma. Não que isso seja necessário para o desenrolar da trama, mas…

Além disso, a segunda temporada de Altered Carbon parece se desenrolar de uma forma mais linear, sem muitas idas e vindas e também um pouco mais curta, com seus episódios apresentando menos de 1 hora de duração. O autor conseguiu tornar até a premissa dos episódios mais interessante e cativante, focando no enredo e menos nos acontecimentos paralelos.

A figura feminina, na segunda temporada, deixou de ser vista como objeto, apenas corpos para o ato sexual, para apresentarem uma importância para a boa sequência dos acontecimentos. Diminuindo as cenas de nudez de forma considerável de uma temporada para a outra, algumas figuras femininas se fizeram bem presente sem recorrer à essa artimanha: é o caso da governadora de Harlan, Danica Harlan, ou até mesmo de Falconer.

A série pecou um pouco nos clichês futurísticos, não apresentando nada de novo ou surpreendente, ou que ainda não fosse esperado, como: veículos voadores, iluminação abusando de neon, a presença constante de Inteligência Artificial, realidade virtual e aumentada, hologramas, entre outros.

Para uma série não muito divulgada, são elementos que não chamam tanto a atenção. Porém, mesmo não sendo uma série de peso ou de grande referência, na segunda temporada conseguiu marcar seu lugar na plataforma de streaming, Netflix.

Temas polêmicos

Existem alguns temas na série, no entanto, que devem ser deixados em aberto para debate. Temas de origem teológica, em conjunto com as ações capitalistas que vão se transformar em um conjunto muito perigoso.

A elite, junto aos avanços perigosos da tecnologia, sempre teve o sonho tecnognóstico que se arrasta por séculos, desde os princípios da Teurgia (ciência que busca a arte do milagre) e Alquimia (ciência que busca a cura para todos os males, através da combinações de elementos naturais), de transcender a matéria, abandonando o corpo material, partindo para uma evolução espiritual. O sonho, por fim, pode se tornar um pesadelo, através da promessa de imortalidade, ou seja, a consciência armazenada de forma digital em discos cervicais.

Esse fato leva à uma sociedade extremamente violenta e desigual, levantando profundas reflexões teológicas. Observe: se pudermos ser ressuscitados após a morte, em uma nova pele, um novo corpo, a alma será a mesma também? Ou seremos simplesmente “capas” ocas manipuladas pela elite poderosa e soberana?

Observem que o sonho tecnognóstico, cujas origens são milenares, como já dito acima, na Teurgia, Alquimia e Cabala, ou seja, Deus criando a vida, é colocado acima de tudo.

A criatura tenta retornar ao Criador, numa tentativa inútil de imitar o próprio ato da Criação. O que é a vida? O que é a morte?

Vejam, uma elite de ricos e poderosos, que tem toda uma eternidade para gozarem de sua fortuna e poder, mantendo-se imortais, afastando-se da realidade tempo suficiente para acumularem a riqueza que quiserem. Bizarro, não é? Extremamente brutal, numa bizarra paródia, relembrando o cenário de Blade Runner.

Parodiando Blade Runner…

Elementos Clássicos do filme

Como já dissemos, Altered Carbon mostra a revolução tecnognóstica como a realização dos sonhos alquímicos e cabalísticos, através de simbolismos, como os Ouroboros, ou seja, a serpente que morde a si própria) e Caduceus (a serpente que sobe pelo corpo feminino, demonstrando a evolução esotérica espiritual), inclusive, presente na abertura dos créditos de cada episódio e também, a capa deste artigo.

Porém, de uma forma sórdida, a série mostra a banalização do corpo como matéria física, uma vez que o principal foco é a imortalidade das memórias e da alma. O corpo é tratado como uma simples ferramenta. Dessa forma, prostituição, violência, agressões, principalmente contra as mulheres, se tornam normais. Além do fato de que consciências podem ser torturadas por muitos anos, o pior pesadelo é acordar dentro de seu próprio limbo, sem corpo para habitar.

Como dissemos anteriormente, esse é um privilégio somente para a elite poderosa. Os pobres recebiam como cheque de pagamento, “capas” inferiores, normalmente do mercado negro. Isso sem falar da resistência dos chamados “Neo-cristãos” que se recusam a receber “novas capas”, acreditando que os “recapeamentos” são sacrilégios aos olhos de Deus.

O grande perigo reside no fato de que em um mundo cheio de abusos, violência e amoralidade, de que adiantaria a evolução espiritual?

Até a próxima!

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Paula Souza

É Editora e Autora do UniversoNERD.Net, Professora de Língua Portuguesa e Inglesa, amante de leitura e Literatura, além de gamer nas horas vagas.

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