Olá, queridos leitores. Hoje quero dar continuidade ao assunto que iniciei no domingo anterior, sobre os Transtornos de Aprendizagem no Âmbito Educacional. Confesso a vocês que não daria continuidade, mas devido à repercussão que o primeiro artigo teve, decidi trazer uma segunda parte, explicando um pouco sobre os demais transtornos, além do TDAH. Vamos lá?
Como vimos no artigo anterior, Transtornos de Aprendizagem podem ser considerados como uma inabilidade específica, ligada à escrita, leitura, raciocínio lógico, em alunos que apresentam resultados que vão além do que se espera para o nível de escolaridade, desenvolvimento e aspectos cognitivos.
Também vimos que não se pode confundir Transtornos de Aprendizagem com Dificuldades de Aprendizado, pois ambos têm causas e soluções distintos par cada caso apresentado. Veja, é inegável que existam pessoas com doenças reais, que possam levar à deficiências e comprometer o desenvolvimento cognitivo.
Um ponto válido para este tema é a discussão do porquê uma parcela considerável desses transtornos, sejam de origem cognitiva ou comportamental, precisa ser transformada em uma pretensa doença neurológica, a qual jamais foi comprovada e até mesmo no campo médico, é tratada somente com intervenção pedagógica.
Por que isso acontece? Nos levará aonde?
As Causas
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5 (DSM-V), a origem dos Transtornos de Aprendizado está, principalmente, em aspectos biológicos, uma vez que se trata de um transtorno de neurodesenvolvimento. Porém, não podemos esquecer que inclui também uma interação de fatores genéticos, ambientais, entre outros.
Os Transtornos, segundo o DSM-V e o CID-10 (Código Internacional de Doenças), nunca vão interagir com aspectos não-biológicos. Existem alguns pontos que, segundo o Manual e o Código em questão, não devem ser considerados como consequência desses transtornos: doença cerebral ou traumatismo, qualquer comprometimento visual ou auditivo que não foi corrigido, comprometimento da inteligência global, falta de oportunidade para um aprendizado adequado, mudança de ambiente escolar, podendo provocar a descontinuidade do aprendizado e por ai vai.
Existe uma hipótese, com a qual a medicina trabalha, mas não existe um estudo que comprove, na qual uma relação, ou melhor, uma interligação cerebral durante o período gestacional. O desenvolvimento cerebral do feto assume um papel de total importância, pois é justamente nessa fase que ocorre uma conexão, atribuindo significados à aprendizagem. Qualquer interferência nesse desenvolvimento, pode desencadear o surgimento de um transtorno que, muito provavelmente, só aparecerá na fase escolar.
Dislexia
Também chamada de Transtorno de Leitura, a Dislexia é caracterizada pela dificuldade no reconhecimento preciso ou fluente das palavras, problemas para decodificação dos códigos linguísticos e dificuldades com questões ortográficas. Assim, podemos dizer que se trata de um transtorno específico da capacidade de leitura, não mantendo nenhuma relação com a idade mental do indivíduo, problemas de visão ou baixo nível escolar. A criança não é “preguiçosa”, mas não consegue ler as palavras de forma precisa ou rápida; sente a necessidade de empregar um esforço enorme nessa tarefa ou até mesmo em soletrar.
Além disso, existe a dificuldade de compreensão do que está lendo. É normal a substituição de palavras no mesmo campo semântico (abelha – mosca) ou a substituição de palavras por aproximação lexical (eslavos – escravos). Existe ainda uma dificuldade em discriminar as letras P/B, T/D, F/V, K/G, X/J e S/Z. Além disso, existe a dificuldade em ler uma história e reconta-la na sequência correta de acontecimento dos fatos.
Na história humanidade, temos nomes de gigantes das descobertas científicas que eram disléxicos: Albert Eistein, Thomas Edson, Vincent Van Gogh, Steve Jobs, além de atores como Keanu Reeves, Tom Cruise, Will Smith, Orlando Bloom e muitos outros.
Discalculia
Na maioria dos casos, o Transtorno da Matemática ocorre mantendo alguma ligação com a Dislexia. Não tem nada a ver com habilidade para as operações básicas da matemática, mas sim, com a forma a qual a criança associa essas habilidades com o mundo exterior. Há uma baixa capacidade para lidar com números e conceitos da matemática, como fazer um simples cálculo usando os dedos como auxílio para a contagem, ao invés de utilizar o processo aritmético. O aluno não consegue aplicar os conceitos básicos da matemática em nada.
Disgrafia
Também chamada de Transtorno da Expressão Escrita, faz referência apenas à ortografia ou caligrafia, na ausência de outras dificuldades do ato de se expressar através da escrita. Geralmente, existe uma combinação de dificuldades na capacidade do aluno em composição de textos escritos, com a presença exagerada de erros de gramática e pontuação, má organização das ideias distribuídas nos parágrafos, entre outros erros relacionados.
De acordo com o DSM-IV, as características evidenciadas desse transtorno são:
- A capacidade de habilidades de expressão escrita inferior à média para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do aluno;
- A interferência da dificuldade da escrita nas atividades do dia-a-dia, como organizar as ideias, por exemplo;
- O aumento da dificuldade de expressão escrita, na presença de alguma deficiência sensorial.
O tratamento, neste caso, é sempre multidisciplinar, claro, focando nas áreas de maior dificuldade. Somente dessa forma, será possível uma avaliação mais detalhada e com maior chance de melhora e sucesso acadêmico.
Conclusão
A maioria das crianças, em qualquer um dos casos, necessita de intervenção psicopedagógica, fonoaudiológica e, em alguns casos, acompanhamento farmacológico associado ao acompanhamento de um profissional da área. Porém, em alguns casos, é necessário que a criança passe por um programa educativo intensivo e individual. Mas, o mais importante é que a criança, em hipótese alguma, seja retirada do ambiente educacional. Ela necessita acompanhar as aulas dentro do ambiente escolar, da maneira mais habitual possível.
Para concluir, é necessário um enquadramento da proposta educacional o mais urgente possível. Já falei em vários artigos e falarei aqui novamente: é necessária uma reciclagem do quadro de profissionais envolvidos no ambiente educacional, para que estejam atentos a identificar os fatores psicológicos que contribuem para o desenvolvimento do problema e ao mesmo tempo auxiliar na descoberta de soluções para o tratamento.
Espero que tenham gostado! Até a próxima!
_________________________________________________________________________
BIBLIOGRAFIAS
Medicalização de Crianças e Adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais à doença de indivíduos/organizadores Conselho Regional de Psicologia de São Paulo; Grupo Queixa Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. American Psychiatric Association; tradução Maria Inês Corrêa Nascimento… et al. Revisão Técnica Aristides Volpato Cordioli… et al. 5ª edição – Porto Alegre – Artmed, 2015.
MedicinaNET. Lista CID 10. Disponível em: <http://www.medicinanet.com.br/cid10.htm> Acesso em: 2 de novembro de 2018.
Se você gostou deste artigo, não deixe de participar através de sugestões, críticas e/ou dúvidas. Aproveitem para assinar o Blog, curtir a Página no Facebook, interagir no Grupo do Facebook, além de acompanhar publicações e ficar por dentro do Projeto Universo NERD, de sorteios, concursos e demais promoções.
< x >
Postar um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.