Saudações, meus nobres amigos nerds. Semanas atrás, dado ao lamentável massacre ocorrido numa escola da cidade de Suzano, foi reacendida a discussão acerca dos games serem um dos principais influenciadores os quais possibilitam que crianças e jovens tenham comportamento agressivo e cometam atitudes violentas. Esse debate, já bem batido por sinal, invoca uma enormidade de defensores dos jogos eletrônicos, que por sua vez, apresentam temas e argumentos para comprovar que os games são benéficos e auxiliam no desenvolvimento cognitivo e intelectual de seus praticantes.
Dentre essas defesas, a que mais me agrada refere-se ao ponto de vista de que os jogos seriam como obras de arte e deveriam ser encarados como tal. Dessa forma, seu poder de influência não seria maior do que o de um filme, série ou música, por exemplo, apenas por ser algo interativo. Portanto, boa parte do problema seria resolvido respeitando-se a classificação indicativa do game.
Por sua vez, esse argumento inflama outra discussão:
Os games podem ser considerados obras de arte?
Foi então, meu artístico nerd, que pela primeira vez, parei para pensar mais a fundo nessa questão e resolvi trazer a vocês a minha singela opinião acerca dessa polêmica. Meu primeiro passo foi buscar uma definição confiável de “arte”. Fico com a de meu filósofo favorito e a quem mais venho estudado nos últimos anos:
Nessa citação de Adorno, retirada de sua obra inacabada, Teoria Estética, fica claro o entendimento do filósofo quanto ao caráter subjetivo e provocativo de uma obra de arte, este, perceptível aos olhares mais atentos de pessoas treinadas para isso (estudiosos) e/ou sensíveis a reconhecer esse valor e beleza. Como músico e amante da arte em geral, o autor, em seus estudos, citava a música, a literatura, cinema e a pintura como as principais e mais comuns formas de manifestação artística conhecidas pela humanidade. Oras! Se todas elas podem ser facilmente encontradas ao mesmo tempo nos games, porque os jogos eletrônicos não seriam uma obra de arte feita a partir dessa junção?!
Basicamente, um game é formado por um enredo (a narrativa, como representação literária), imagens (pinturas), cenas (cinema) e uma trilha sonora (música). Desde que tenham qualidade e gerem impacto por sua beleza e estranhamento, pelo menos a mim, meu filósofo nerd amigo, não restam dúvidas de que ALGUNS jogos são sim, verdadeiras obras de arte!
Abaixo, trago alguns exemplos de games que se encaixariam nesse patamar. Quem já jogou ou conhece, entenderá o porquê.
Ori and the Blind Forest
Lançado em 2015 para o PC e Xbox One, foi desenvolvido, em início, pela Moon Studios, uma desenvolvedora formada por meio de colaboração entre designers e programadores de todas as partes do mundo. Em 2011, a Microsoft assumiu o projeto e concluiu o game.
Trata-se de um jogo de aventura em plataforma, no mais cruel estilo “metroidvania”. Nele, você assume o controle de Ori, um simpático espírito-guardião que habita a floresta de Nibel. Seu objetivo é restaurar a natureza do local, que passou por eventos catastróficos e se encontra totalmente decadente.
O jogo é lindíssimo! As cenas e imagens são de extrema beleza! Quem espera um jogo com enredo infantil, se engana! A trama é muito bem desenvolvida, envolvente e emocionante. A trilha sonora se encaixa perfeitamente nos eventos. É impossível, meu caro nerd, logo de cara, você não notar que se trata de um jogo muito diferenciado! Veja o vídeo e confira:
Limbo
A fama do jogo já diz por si só: graças ao seu clima de suspense, realçado pelo gráfico monocromático que apresenta, dotado com excelentes efeitos de sombra, iluminação e sons, Limbo foi considerado por muitos críticos de arte como o perfeito exemplo de um game artístico.
Lançado inicialmente para o Xbox 360 em 2010, o jogo foi portado, a partir do ano seguinte, para várias outras plataformas. Trata-se de um jogo de quebra-cabeça em plataforma. Foi desenvolvido por uma empresa independente, a Playdead, localizada na Dinamarca. Sem dúvida alguma, o foco principal do jogo é sua narrativa e a quantidade enorme de interpretações possíveis que ela traz; todas elas um tanto quanto sombrias e pesadas, o que acabou gerando polêmica e reforçando o interesse por ele.
Ōkami
Lançado em 2006 pela Capcom para o Playstation 2 e portado para o Nintendo Wii em 2009, Ōkami foi desenvolvido pela extinta Clover Studio. É um jogo que mistura ação, aventura, plataforma e quebra-cabeça. Nele, o jogador assume o controle de Amaterasu, a deusa sol, configurada na forma de um lobo branco, que possui a missão de restaurar a beleza da Terra.
A história, belíssima e riquíssima, com diversos elementos do folclore oriental, se passa no Japão antigo. Tudo é contado por meio de cenas feitas a partir da técnica de cel-shading, uma forma de renderização de imagens em 3D que torna o gráfico do jogo semelhante a ilustrações japonesas feitas a partir de pinturas em aquarela.
Por falar em pintura… claramente, essa manifestação artística é o ponto forte do game. O jogador pode pausar o jogo e usar o controle para desenhar na tela, valendo-se do Celestial Brush (Pincel Celestial). Essa forma de jogabilidade também pode ser utilizada no combate contra inimigos. Peculiaridades a parte, Ōkami é outro exemplo consensual de um excelente game artístico.
Journey
Criado para evocar no jogador as sensações de insignificância e fascínio diante do mundo em que é ambientado, a fim de forjar uma conexão emocional com outros jogadores encontrados durante a jornada, os desenvolvedores capricharam nas artes visuais e de áudio do game.
Desenvolvido pela independente Thatgamecompany, foi lançado para o Playstation 3 e 4 em 2012. No jogo, o jogador controla uma figura encapuzada que vaga por um gigantesco deserto para chegar a uma montanha. Para chegar até ela, é preciso da ajuda de outros jogadores encontrados no caminho. Porém, a única forma de comunicação é uma nota musical que os personagens emitem e que harmonizam com a música de fundo. Os pontos fortes de Journey, conforme já mencionados, são o seu enredo, contado por meio de cutscenes, e sua trilha sonora, composta por Austin Wintory. Tudo saiu tão bem feito que o game ganhou diversos prêmios, entre eles, o de melhor jogo do ano e também um Grammy como melhor trilha sonora para mídia visual. Inquestionavelmente, é uma obra de arte!
Final Fantasy VII
O vovô dessa lista data de 1997. Desenvolvido pela SquareSoft para o Playstation, o aclamadíssimo Final Fantasy VII é o sétimo jogo da mais famosa franquia de RPG da história. Sobre esse game, meu desconfiado nerd, sou muito suspeito em falar! Se me perguntares qual seria o maior jogo eletrônico de todos os tempos na minha opinião, não demoraria um segundo sequer para responder: “Final Fantasy VII”.
No comando do carismático Cloud Strife, você deve ajudar o grupo ecoterrorista, Avalanche, a salvar o planeta. Para atrapalhar os seus planos, o não menos carismático, Sephiroth, maior antagonista da história dos games, será uma enorme pedra em seus sapatos! Tudo no jogo beira a perfeição: enredo altamente envolvente e dramático, cutscenes belíssimas e uma trilha sonora inesquecível! Só de ouvir a música de prelúdio do jogo, fãs derramam lágrimas! O que falar então da cena do assassinato da Aeris?! Se isso não é arte, meu caro nerd, eu, Adorno e mais ninguém, sabemos o que é! Assista a cena e diga se não tenho razão:
Desde o seu lançamento, Final Fantasy VII já ganhou dezenas de prêmios, entre eles, o de melhor jogo de 1997 e o de primeiro lugar na Academy of Interactive Arts & Sciences nas categorias de “Jogo de Aventura para Console” e “RPG de Console”. Além disso, no decorrer dos anos, várias revistas e outras mídias especializadas em games, já o elegeram como o maior da história. Simplesmente, um título obrigatório para que se julga gamer e/ou amante das artes!
E então, meu fiel nerd que chegou até aqui? Consegui te convencer que os games podem sim ser considerados obras de arte? Espero que sim, pois a retórica e a argumentação são outras formas de arte que espero ter manifestado por aqui. Mas isso já é outro assunto…
Abraços e até breve!
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