Depois de ter terminado de ler o livro “Ética globalizada e sociedade do consumo” do autor Júlio José Chiavenato, pude expandir minha visão sobre a real face da Globalização. Mas é claro que não tenho dúvidas alguma da sua importância e que a mesma nos proporcionou inúmeras vantagens, aliás sem ela nem sequer haveria o compartilhamento dessa experiência que adquiri após a leitura deste livro e alguns estudos.
O autor deste livro foi bastante cauteloso ao tratar esse assunto, mostrando de forma imparcial todo seu abrangente contexto, nos dando o caminho para fazer nossas próprias reflexões. Antes de ler o livro, se me perguntassem: “Você é globalizado?” eu responderia: “Claro que sim! pois hoje eu posso consumir mídias, mercadorias e ideias de praticamente qualquer país; tenho livre acesso à internet, meios de transportes modernos, entre outros.” Esse pensamento é totalmente alienado e se reduz unicamente às diretrizes do consumo, onde o “ter” tornou-se a chave mestra que rege as pessoas.
Mas hoje o meu pensamento é outro e você verá qual é.
A questão da globalização e sua relação com o consumo
A globalização é um fenômeno real, embora o seu nome não condiz com a realidade, pois epistologicamente falando, globalização quer dizer: “ação em um globo”, o que não precisa discutir muito para sabermos que o mundo não é globalizado totalmente, ainda existem lugares que os efeitos desse fenômeno não chegaram.
Esse processo se consolidou a partir da Terceira Revolução Técnico-Científica, ocorrida precisamente em 1950, caracterizado principalmente por massivos avanços tecnológicos, científicos e de produção. Isso permitiu o rompimento de diversas barreiras que por milênios julgavam ser impossíveis, como por exemplo, a ida do homem à Lua. Sobre os benéficos sociais, poderíamos passar horas citando as conquistas, mas em linhas gerais, a globalização possibilitou o conforto, a segurança, a educação e a saúde para “todos”.
Em contrapartida a prosperidade desse complexo sistema triunfou uma desigualdade gritante entre as regiões do mundo. Geograficamente, os países da parte sul (com algumas exceções, como a Austrália) possuem muito menos qualidade de vida do que os do norte do planeta. Nós brasileiros, por exemplo, fazemos parte da “periferia”, que nos obriga manter uma relação forte de dependência e em vários âmbitos com os países mais ricos, e prolongando ainda mais as ínfimas chances de uma ascensão política, econômica e social.
Partindo pela premissa básica de que os países ricos ditam as regras, é fácil entender que eles também possuem uma poderosa zona de influência ideológica. Assim, a globalização passou a ser reduzida pelas diretrizes do consumo, ou seja, se você pode consumir (mesmo que algo barato) você automaticamente é globalizado. Ainda que talvez não tenha arroz, feijão, ou até mesmo um pacote de açúcar em casa para se alimentar; se você consume sei lá o que, uma notícia sobre um atentado no exterior, um novo hit da Beyonce, ou um produto “made in China”, você é, sem muitos questionamentos, globalizado.
Simplesmente porque globalizar é poder comprar, é ter, é consumir. Esse é o resumo da globalização atual, ideologia fincada na cabeça de milhões e milhões de pessoas.
O poder de compra é sim um indicador do desenvolvimento socioeconômico e afirma a real existência da globalização, inclusive em regiões mais pobres ou em economias emergentes, como a do Brasil. O avanço técnico-científico permitiu que a distância entre as descobertas da ciência e a sua aplicação no setor de produção fossem cada vez menores. Ou seja, hoje em dia, o que é descoberto ou mesmo uma inovação tecnológica produzida é difundida em um tempo extraordinariamente inferior em relação a 50 anos atrás.
Por exemplo, em meados de 1837 chegou-se a convicção de que era possível transmitir som através de ondas elétricas, no entanto, só em 1876 que o primeiro telefone foi inventado, para eferverscência mundial. Esse meio de comunicação que hoje já perdeu espaço para o smartphone transformou a vida e as formas de relações sociais de milhares de pessoas, pois tornou-se possível conversar com amigos e familiares que estavam a quilômetros de distância. Além disso, o curso do trabalho ficou mais fácil e menos burocrático, porque a partir do acesso aos telefones fechar negócios poderiam ser feitos à longas distâncias, em vez de se restringir à reuniões. Contudo, é importante frisar que após o lançamento comercial, pouquíssimas pessoas tinham acesso ao produto, pois só aqueles que tinham muito dinheiro poderiam obter tal inovação.
Atualmente, as inovações tecnológicas são aplicadas quase que instantaneamente no mundo todo e dependendo do produto e das condições econômicas de cada país, estes são comercializados a um preço relativamente acessível às classes sociais (o que também fez popularizar os produtos de segunda linha e a pirataria). Modelos novos de notbooks e smartphones, por exemplo, são lançados a todo momento, trazendo como consequência imediatas a obsolência de produtos “recém lançados”, a indução do consumo descontrolado e como resultado disso, a produção desenfreada de lixo. Em contrapartida, esse avalanche tecnológico permitiu o conforto, a facilidade e a eficácia nos relacionamentos entre as pessoas.
Ademais, possibilitou o barateamento dos preços paralelos ao aumento da qualidade dos produtos e serviços, movidos pela busca de lucro e pela tentativa de barrar a concorrência.
Não existe dúvidas de que a globalização facilitou o acesso ao consumo e que por isso, melhorou a qualidade de vida das pessoas. Entretanto, atrelado a este avanço, nota-se que também houve uma regressão, no que diz a respeito do tratamento das pessoas sobre outros assuntos importantes alheios a globalização. Segundo Júlio José Chiavenato, o autor do livro mencionado no primeiro parágrafo deste artigo, a globalização criou um certo consumo ideológico entre as pessoas ou “consumo de duas pontas”.
As duas pontas do consumo são aquelas que se estendem ao encantamento da compra tanto do pobre quanto do rico. Encantamento este, que satisfaz na mesma intensidade as necessidades reais dos ricos que podem adquirir produtos caros, duráveis e socialmente almejados. Mas, também satisfaz as necessidades imaginárias da classe média baixa e da classe pobre ao permitir a festa do consumo de produtos, que muitas vezes são inutilidades ou supérfluos com vida útil curta. Ambos, de classes contrárias, cotidianos e necessidades diferentes, sujeitos a mesma globalização alcançam a mesma intensidade no êxtase de ser ou de ao menos se sentir globalizado. Por isso, pode-se afirmar que a globalização vence, no quesito: “fazer que todos, ricos ou pobres, pensem que são globalizados à medida que podem consumir algo”.
Essa pergunta pode soar engraçada: No mundo, ou melhor, no Brasil há mais pobres ou mais ricos? Não precisa de resposta para tal questionamento, pois a desigualdade em nosso país é tão grande que todos tem conhecimento e que se fosse colocar em metros, a distância socioeconômica que separa o pobre do rico extrapolaria as fronteiras de nosso país. Segundo Júlio José Chiavenato:
Em 1994, os considerados mais ricos (20% da população do planeta) ficaram com 86% do que foi produzido no mundo. De 1960 a 1994, a participação dos pobres na economia mundial caiu de 2,3% para 1,1% – uma perda de 47,82%. Outro dado constrangedor desse relatório é que os 447 milionários do mundo têm uma renda igual a de 2,8 bilhões de pessoas.
Se for pautar a desigualdade nos âmbitos da educação, segurança e moradia, esse texto deixa de ser um artigo para ser um conto de terror. Vivemos num país que embora seja considerado continental falta “lugar para o povo morar” e uma reforma agrária que tenha aplicabilidade e que altere a estrutura fundiária.
Desigualdade esta, que é pouco pautada nos discursos dessa mesma massa que sofre dias após dias. E quando ela é pautada, é pouco divulgada, e quando divulgada, por vezes, não gera resultados tão significativos. Não quero afirmar que a força popular brasileira é inútil, pelo contrário, ela é a única que pode mudar nosso país em um cenário na qual os políticos não exercem política, mas sim politicagem embasadas em interesses pessoais, oligárquicos e privados. No entanto, quero expor que mesmo com a facilidade na divulgação de informações, cresceu-se a inércia dentre os movimentos sócias e popularizou-se os discursos vagos, sem conhecimentos aprofundados e dotados de ódio, principalmente nas redes sociais. E a globalização tem parte nessa história, pois é esse fenômeno que faz todos sentirem-se viver em um só mundo, que endeusa objetos por eles mesmos produzidos, que alavancou o consumismo.
É a mesma globalização que submete a importância do “ser” em detrimento do ser ao “ter”, é a mesma que destruiu as ideologias, a mesma que mata milhares de crianças de fome anualmente e a mesma que se encarregou de agilizar a desigualdade. “Mas espera, se todo mundo é globalizado, se o mundo é um só, por que há tanta desigualdade? Onde está globalização nisso?”. A resposta é simples meu caro, sobre ser globalizado, os pobres em geral só entram na fração consumista. E quando se fala em ser consumista ainda existem várias cláusulas nisso. As cláusulas são: você até pode comprar um smartphone com tela grande, PORÉM obrigatoriamente vai faltar professores em sua escola; você até pode usar o metrô para ir ao trabalho, PORÉM obrigatoriamente você será assaltado na volta para casa; você até pode publicar em seu Facebook suas opiniões e visões de mundo, PORÉM obrigatoriamente a verdade da televisão é a que prevalecerá; e você até pode ter acesso a internet, PORÉM obrigatoriamente o sistema público de saúde será um eterno fracasso.
Vamos fazer uma reflexão?
Esses PORÉNS são poucos refletidos e quase nunca discutidos atualmente e apenas a face agradável da globalização é difundida. A educação é sem sombra de dúvidas, o motor que poderá trazer as mudanças em nosso país. Ela é a única que poderá escancarar todas as faces desse sistema que triunfa ano a ano. Nota-se que muitas pessoas usam a internet para conversar com os amigos, se entreterem, porém, são as mesmas que ficam excluídas dos assuntos importantes ao seu redor e muitas vezes, são as mesmas que encontram dificuldades ao simplesmente conseguir fazer uma boa pesquisa sobre determinado assunto na web. Nosso Brasil navega num mar de desigualdade e corrupção sim, mas não há nenhuma lei impedindo que cada brasileiro dê seu primeiro passo em busca da sua própria educação.
Então, se hoje me perguntarem se me considero globalizado a minha resposta será outra.
Sobre ser globalizado, eu até posso ser “glo”, pois o “balizado” ainda falta muito. Globalização é um fenômeno complexo, vai muito além de simplesmente ‘comprar’, globalização deveria ser sinônimo de igualdade, se você pode ter acesso à uma educação de qualidade e eu não, nós nunca seremos um só. Não podemos nos identificar nesse sistema quando não temos as mesmas oportunidades, só porque temos smartphones da mesma marca.
_______________________________________________________
Se você gostou deste post, não deixe de participar através de sugestões, críticas e/ou dúvidas. Aproveitem para assinar o Blog, curtir a Página no Facebook, interagir no Grupo do Facebook, além de acompanhar publicações e ficar por dentro do Projeto Universo NERD, de sorteios, concursos e demais promoções.
Postar um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.